11 fevereiro, 2011

A Flor.

Pede-se a uma criança: Desenha um flor ! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo, o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança fez tantas força em certas linhas que o papel quando não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já eram demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor ! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor ! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz um flor !

Texto de: José de Almada Negreiros (1893-1970), poeta, escritor e artista plástico. Um dos fundadores das revista Orpheu (veículo de introdução do modernismo em Portugal), juntamente com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.


p.s.: a minha escola é super fofa, e cada dia lê-mos um texto às 8:30h, e o texto de hoje foi este e eu achei-o lindo ! por isso decidi mete-lo aqui. :)

11 de Fevereiro de 2011.*

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